domingo, 27 de fevereiro de 2011

A enxurrada que a Encosta da Serra não vai esquecer.

     A enxurrada que atingiu os municípios de Santa Maria do Herval, Morro Reuter, Dois Irmãos e interior de Sapiranga trazendo destruição e a morte de 2 jovens (segunda vítima foi encontrada nesta tarde), vem gerando dúvidas e desconfiança, deixando a população local apreensiva.
     Ainda na noite de domingo (20/02), poucos momentos após o ocorrido, já circulava a informação equivocada de que uma barragem na localidade de Serra Grande (Santa Maria do Herval) havia rompido. No entanto, o que ocorreu foi uma chuva torrencial concentrada na região montanhosa onde também estão localizadas as nascentes do Rio Cadeia, Feitoria e efluentes. Os vales, fendas e arroios conduziram toda a água acumulada diretamente para estes dois flúmens. Açudes localizados nas propriedades rurais romperam-se aumentando ainda mais o grande volume de água. A imagem abaixo ilustra o caso:



     Conforme os registros divugados pela imprensa, a precipitação foi superior a 180 mm em Santa Maria do Herval, sendo que a maior parte desta chuva - de acordo com relatos dos moradores - ocorreu nas localidades de Padre Eterno Ilges, Padre Eterno Baixo, Fazenda Padre Eterno, Frankenthal e Serra Grande. É justamente nesta região que se encontram as cabeceiras do Rio Cadeia - que transbordou causando sérios prejuízos em Santa Maria do Herval, e do Arroio Jacob, que junto com o Arroio Lauer formam o Arroio Feitoria - o qual deixou rastro de destruição e morte, principalmente na Reserva Família Lima. Como o relevo da área é bastante acidentado, com forte declive em direção a Dois Irmãos por um lado e Santa Maria do Herval pelo outro, a enxurrada ganhou velocidade serra abaixo, potencializando o poder de destruição.
      Com a ajuda de recursos do Google Earth, é possível visualizar o relevo dos locais, dando uma idéia aproximada do caminho percorrido pelas águas:

Vista da Picada Verão, com a região conde ocorreu a chuva ao fundo, acima da cabeceira do Arroio Feitoria.

Vista do Centro de Santa Maria do Herval, mostrando a região alta ao fundo, em direção à nascente do Rio Cadeia.
     Conforme a meteorologia, alguns fatores externos contribuíram para a formação de tanta chuva concentrada na mesma região, como uma corrente de ar vinda da Amazônia e outra do Atlântico. Contudo, o fato é que situações como esta podem voltar a ocorrer, portanto, é preciso avaliar o caso e prevenir.

Jerri Meneghetti


     Entenda o quê são enxurradas:

     As Enxurradas ocorrem quando uma quantidade substancial de água proveniente das chuvas torrenciais incidem sobre áreas propensas à percepção de seu registro. Em geral elas estariam elevando níveis de rios ou de córregos em regiões de bacias, mas o desmatamento e a ocupação populacional acabam interferindo nesta ação. Uma área de mata virgem, tem capacidade natural de absorver até 180 mm de água em uma hora, uma área que tenha mais de 20 anos de cultivo de soja/milho, geralmente tem capacidade de absorver apenas 8 mm/h.

     O povoamento acaba realizando ações sobre o solo com a cobertura de sua camada em forma de "capa", fazendo com que este não consiga absorver quase nada. Deste modo, temos uma imensa bacia que será obrigada a direcionar a vazão das chuvas para as corredeiras que sempre são insuficientes para comportar este volume quando da incidência superior à 70 mm em poucas horas (cada mm representa um metro cúbico).

      Nas cidades, as atividades pluviométricas superiores à 40 mm já são suficientes para provocar inundações regionalizadas. Quando uma região onde existiu um rio ou corredeira no passado, tiver sido povoada, ela estará propensa a perceber a descida das águas de áreas mais elevadas, que se avolumam na estreita faixa da antiga corredeira e dará origem à Enxurrada.

     Ela prossegue com ação natural da lei gravitacional nas áreas de declínio do solo tendo deste modo, uma força maior quando proveniente de áreas montanhosas e menor para áreas de bacia. Não é raro ocorrerem enxurradas que pela sua força, consigam arrastar veículos, pessoas, animais e mobílias para as corredeiras e rios. Muitas vezes, quem for arrastado por uma enxurrada, poderá ser encontrado à quilômetros de distância do local de origem.

     Uma das medidas necessárias para se evitar tragédias com a ocorrência de enxurradas, é não querer enfrentá-las ou imaginar que possa atravessar sua área de passagem, pois não se deve esquecer que da mesma maneira como as águas correm em velocidade significativa, elas também carregam objetos que podem se chocar contra os pés, ou as rodas (para quem pretender atravessar com bicicletas, motos, triciclos, ou mesmo veículos), fazendo com que se perca a estabilidade e principalmente a aderência ao solo, algo que é praticamente impossível na enxurrada.


    Medidas de Controle:

     As medidas de controle de inundações podem ser classificadas em estruturais, quando o homem modifica o rio: obras hidráulicas, como barragens, diques e canalização; e em não estruturais, quando o homem convive com o rio: zoneamento de áreas de inundação, sistema de alerta ligado à defesa civil e seguros. No Brasil, não existe nenhum programa sistemático de controle de enchentes que envolva seus diferentes aspectos. O que se observam são ações isoladas por parte de algumas cidades.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Retornando.

     Depois de dar um tempo durante o mês de janeiro, que foi importante para colocar as atividades profissionais em dia, entramos no mês de fevereiro com o fim do recesso da Câmara de Vereadores e muitos temas para dar prosseguimento.
     Começaremos de forma mais leve, com um assunto de terras distantes, mas importante para a população mundial. O post a seguir é um texto do Reinaldo Azevedo, referente à falsa democracia que se esconde nos eventos recentes, como a queda do ditador egípcio Mubarak.

Essa tal democracia. Ou: eleição não é sinônimo de civilização; é preciso mais

Algumas coisas me dão, assim, certa preguicinha… Mas eu jamais me furto a explicar o que penso, vocês sabem. Uns bobinhos me acusam de má vontade com a “revolução espontânea” do Egito. Eu só digo que inexistem revoluções espontâneas — a não ser nos textos do Arnaldo Jabor. Também acho um cretinismo esse papo de revolta promovida pelo Facebook ou pelo Twitter. Mais ainda: penso que nenhuma situação é ruim o bastante que não possa piorar. Pessimista? Não! Só realista.
A Irmandade Muçulmana disse que vai criar um partido no Egito e disputar eleições — o que ela já faz hoje, na clandestinidade. Já leram o ideário dos moços, que não foi mudado? Eles querem um governo regido pelas leis do Islã. Sendo assim, a democracia lhes será apenas um instrumento, não um objetivo. Adiante.
Exibem-me os protestos no Irã como um sinal de que o mundo muçulmano — cuidado com sites e blogs que chamam os iranianos de “árabes”; eles são persas! — está vivendo uma espécie de convulsão democrática. Muito antes dessa “revolta do mundo árabe”, a oposição iraniana dava sinais de vida. Pessoas morreram contra a eleição fraudada que concedeu um novo mandato a Ahmadinejad, o “meu querido” de Lula. Hoje, no Parlamento iraniano, os governistas gritavam a plenos pulmões contra as oposições e pediam que seus líderes fossem executados.
Aquela gente foi eleita. Mecanismos de consulta democrática não implicam a existência de uma democracia, que é mais do que essa formalidade. Ela também implica um conjunto de valores. Entre eles, é preciso compreender que a minoria legitima a maioria; que ser derrotado nas urnas não impõe a renúncia a seus propósitos. É bem verdade que até o Brasil tem perdido isso de vista.
O que estou dizendo é que a gritaria dos parlamentares governistas do Irã para que os oposicionistas sejam executados vai AO encontro das minhas preocupações no que diz respeito ao Egito, não DE encontro. Sem o VALOR DEMOCRÁTICO, o mecanismo pode ser apenas uma forma de legitimar a barbárie, como bem sabem os vários fascismos — inclusive o fascismo islâmico que vigora no Irã.
Por Reinaldo Azevedo
Fonte: http://www.veja.com.br/