sábado, 10 de abril de 2010

Tragédia no Rio de Janeiro

Editoriais Zero Hora de 10/04/2010.

     AVALANCHE DE ERROS

     A tragédia dentro de uma tragédia maior, como foi o caso do desmoronamento do Morro do Bumba, em Niterói, em meio à comoção pelas mortes em consequência das enchentes no Rio de Janeiro, é uma síntese dolorida de uma sucessão de erros infelizmente comuns nos centros urbanos de médio e grande portes do país. Ainda sob o choque provocado por tanto sofrimento humano, o episódio expõe com crueza um outro Brasil no qual parcela da população vive em situação precária, a começar pelas péssimas condições de moradia e de infraestrutura. As razões para tantas mortes, portanto, vão além do excesso de chuvas e dos desmoronamentos. Começam pela degradação do meio ambiente e pelo fato de a área, além de ter sido ocupada irregularmente, constituir-se não num aterro sanitário cercado de preocupações mínimas, mas num verdadeiro lixão, cujos riscos nem mesmo maquiagens urbanísticas conseguiram atenuar.

     Em boa parte, a responsabilidade pelo morticínio, no caso de municípios como Rio de Janeiro e Niterói, é das prefeituras, que se omitem diante de situações inaceitáveis, como é a construção de residências em áreas claramente de risco. Embora polêmico do ponto de vista jurídico, o decreto da prefeitura do Rio determinando que morador em situação de risco possa ser removido à força poderia ter sido pensado antes, ainda a tempo de evitar uma tragédia cujo desfecho era previsível. O governo estadual também tem sua cota de responsabilidade, por não se empenhar o suficiente com medidas de prevenção capazes de conter o número de mortos, e por não dispor de condições adequadas para enfrentar situações de caos.

     Da mesma forma, o Palácio do Planalto precisa vir a público para explicar a razão de quase metade das verbas do Programa de Prevenção e Preparação de Desastres terem sido destinadas à Bahia, Estado no qual o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (PMDB), no cargo até a semana passada, é pré-candidato a governador. É inadmissível que a omissão ou os interesses eleitorais, como se constata no Rio de Janeiro, possam se sobrepor a questões cujo tratamento deveria ser o mais responsável e o mais objetivo possível.

     Assim como a população do Rio de Janeiro e a de Niterói, também a do país está dividida entre quem vive dignamente ou não por descaso histórico de políticos e homens públicos que a sociedade não pode mais tolerar. Particularmente num país de alto grau de urbanização como o Brasil, os governantes precisam se comprometer cada vez mais em aplicar o dinheiro obtido dos impostos pagos por todos de forma mais equânime e mais responsável. Não pode haver desculpa para homens públicos que fecham os olhos à ocupação desordenada e fatos como a construção de casas em áreas de risco, como se não houvesse alternativa e como se essa parcela da população estivesse mesmo condenada à fatalidade.

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